quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Só porque hoje comecei o dia a ouvir isto...





O Pássaro da Alma


"No fundo, bem lá no fundo do corpo, mora a alma.
Ainda não houve quem a visse,
mas todos sabem que existe.
E não só sabem que existe,
como também sabem o que lá tem dentro.
Dentro da alma, lá bem no centro,
pousado numa pata, está um pássaro.
E o nome desse pássaro é o Pássaro da Alma.
E ele sente tudo o que nós sentimos :

Quando alguém nos magoa,
o pássaro da alma agita-se para lá e para cá
em todos os sentidos dentro do nosso corpo, sofre muito.
Quando alguém nos ama,
o pássaro da alma dá pulinhos de contente,
para trás e para a frente, vai e vem.
Quando alguém nos chama,
o pássaro da alma põe-se logo à escuta da voz
a fim de reconhecer que tipo de apelo é.
Quando alguém se zanga connosco,
o pássaro da alma recolhe-se
dentro de si ,tristonho e silencioso.
E quando alguém nos abraça, o pássaro da alma
que mora no fundo, bem lá no fundo do nosso corpo,
começa a crescer, crescer,
até encher quase todo o espaço dentro de nós,
tão bom para ele é o abraço.

Dentro do corpo, no fundo, bem lá no fundo, mora a alma.
Ainda não houve quem a visse,
mas todos sabem que ela existe.
E ainda nunca, nunca veio ao mundo alguém
que não tivesse alma.
Porque a alma entra dentro de nós no momento em que nascemos
e não nos larga
- Nem uma só vez –
até ao fim da vida.
Como o ar que o homem respira
desde a hora em que nasce até à hora em que morre.
Decerto querem também saber de que é feito o pássaro da alma.
Ah, isso é mesmo muito fácil :
É feito de gavetas e mais gavetas.
Mas não podemos abrir as gavetas de qualquer maneira,
pois cada uma delas tem uma chave para ela só!
E o pássaro da alma
é o único capaz de abrir as gavetas dele.
Como ?
Pois isso também é muito simples :
Com a segunda pata.

O pássaro da alma está pousado numa pata,
e com a outra – que em descanso está dobrada sob a barriga –
roda a chave da gaveta que quer abrir,
puxa pelo puxador, e tudo o que está dentro dela
sai em liberdade para dentro do corpo.

E como tudo o que sentimos tem uma gaveta,
o pássaro da alma tem imensas gavetas.
A gaveta da alegria e a gaveta da tristeza.
A gaveta da inveja e a gaveta da esperança.
A gaveta da desilusão e a gaveta do desespero.
A gaveta da paciência e a gaveta do desassossego.
E mais a gaveta do ódio, a gaveta da cólera e a gaveta do mimo.
A gaveta da preguiça e a gaveta do vazio.
E a gaveta dos segredos mais escondidos,
uma gaveta que quase nunca abrimos.
E há mais gavetas.
Vocês podem juntar todas as que quiserem.

Às vezes uma pessoa pode escolher e indicar ao pássaro
as chaves a rodar e as gavetas a abrir.
E outras vezes é o pássaro quem decide.
Por exemplo: a pessoa quer estar calada e diz ao pássaro para abrir
a gaveta do silêncio. Mas ele, por auto-recriação,
Abre-lhe a gaveta da fala,
E ela desata a falar, a falar sem querer.
Outro exemplo: a pessoa quer escutar pacientemente
- e em vez disso ele abre-lhe a gaveta do desassossego
que faz com que ela se enerve.
E acontece que a pessoa tenha ciúmes sem qualquer motivo.
E que estrague justamente quando mais quer ajudar.
Porque o pássaro da alma nem sempre é disciplinado
e às vezes dá-lhe trabalhos...

Agora já compreendemos que cada homem
é diferente do seu semelhante
por causa do pássaro da alma que tem dentro de si.
O pássaro que em certas manhãs abre a gaveta da alegria,
e a alegria jorra para dentro do corpo e o dono dele fica feliz.
E quando o pássaro lhe abre a gaveta da raiva,
a raiva escorre de dentro dela e domina-o totalmente.
Até que o pássaro volte a fechar a gaveta
ele não pára de se zangar.
E quando o pássaro está de mau humor
abre gavetas que dão mal-estar.
E quando o pássaro está de bom humor
escolhe gavetas que fazem bem.

E o mais importante – é escutar logo o pássaro.
Pois acontece o pássaro da alma chamar por nós, e nós não o ouvirmos.
É pena. Ele quer falar-nos de nós próprios.
Quer falar-nos dos sentimentos que estão encerrados nas gavetas dentro de nós.

Há quem o ouça muitas vezes.
Há quem o ouça raras vezes,
E há quem o ouça
Uma única vez na vida.

Por isso vale a pena
talvez tarde pela noite, quando o silêncio nos rodeia,
escutar o pássaro da alma que mora dentro de nós,
no fundo, lá bem no fundo do corpo. "
Michal Snunit

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A carta


"Meu caro amigo,
espero que esta carta o encontre de excelente saúde. Bem sei que não é exactamente uma carta isto que lhe escrevo agora, mas uma mensagem electrónica. Já ninguém escreve cartas. Eu sou-lhe sincero, sinto saudades do tempo em que as pessoas se correspondiam, trocando cartas, cartas autênticas, em bom papel, ao qual era possível acrescentar uma gota de perfume, ou juntar flores secas, penas coloridas, uma madeixa de cabelo. Sofro uma nostalgia miúda desse tempo em que o carteiro nos trazia as cartas a casa, e da alegria, do susto também, com que as recebíamos, com que as abríamos, com que as líamos, e do cuidado com que, ao responder, escolhíamos as palavras, medindo-lhes o peso, avaliando a luz e o lume que ia nelas, sentindo-lhes a fragância, porque sabíamos que seriam depois sopesadas, estudadas, cheiradas, saboreadas, e que algumas conseguiriam, eventualmente, escapar à voragem do tempo, para serem relidas muitas anos depois. Não suporto a grosseira informalidade das mensagens electrónicas. Enfrento sempre com horror, um horror físico, um horror metafísico e moral, aquele "Oi!" que nos foi imposto a partir do Brasil - como é possível levar a sério alguém que se nos dirige assim?..."

"O vendedor de passados" - José Eduardo Agualusa


Todos nós temos cartas que nunca escrevemos,
cartas que nunca enviámos,
cartas que nunca deitámos fora...
e mais! Cartas que nunca pensámos receber...

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Abraço


“O aconchego de um abraço é muito mais intenso do que um beijo, beijar é bom, mas sentir o calor de outro ser humano é muito melhor.... faz-nos sentir que não estamos sós e que vale a pena viver. O beijo é um acto, um abraço é um sentimento... ”

Li este texto algures na internet e não poderia estar mais de acordo com ele. Não custa nada dar um beijo, damos beijos a várias pessoas e em várias situações. Dá-se um beijo a um amigo, a um familiar, a um conhecido, por educação, respeito, a alguém que nos foi acabado de apresentar...talvez até já se tenha tornado num hábito não muito sentido.


Já de um abraço não posso falar da mesma forma...Não andamos por aí a dar abraços da mesma forma que da-mos beijos.

O beijo é para o encontro enquanto que o abraço é para o reencontro!

Nada dá tanto aconchego como um abraço e por vezes é tão embaraçoso abraçar e ser abraçado...

Para eu poder dar um abraço a alguém tem que haver uma relação próxima e verdadeira, tenho que estar realmente à vontade com a pessoa pois só assim dá "aquele" prazer. O prazer de um abraço preenche muitas vezes um vazio...dá calor, aconchega, faz-nos muitas vezes perceber que não estamos sós e que vale a pena continuar na luta. Dá-me essencialmente paz e é num abraço que muitas vezes pode acabar um momento de nervosismo, ansiedade, tristeza. confusão. É num abraço, e apenas só com um abraço que muitas vezes é possível demonstrar alegria, amor, amizade, companheirismo, solidariedade, compreensão, clarificar sentimentos e emoções. Um abraço emociona, revitaliza...enfim!

Abracem-me :)