quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A carta


"Meu caro amigo,
espero que esta carta o encontre de excelente saúde. Bem sei que não é exactamente uma carta isto que lhe escrevo agora, mas uma mensagem electrónica. Já ninguém escreve cartas. Eu sou-lhe sincero, sinto saudades do tempo em que as pessoas se correspondiam, trocando cartas, cartas autênticas, em bom papel, ao qual era possível acrescentar uma gota de perfume, ou juntar flores secas, penas coloridas, uma madeixa de cabelo. Sofro uma nostalgia miúda desse tempo em que o carteiro nos trazia as cartas a casa, e da alegria, do susto também, com que as recebíamos, com que as abríamos, com que as líamos, e do cuidado com que, ao responder, escolhíamos as palavras, medindo-lhes o peso, avaliando a luz e o lume que ia nelas, sentindo-lhes a fragância, porque sabíamos que seriam depois sopesadas, estudadas, cheiradas, saboreadas, e que algumas conseguiriam, eventualmente, escapar à voragem do tempo, para serem relidas muitas anos depois. Não suporto a grosseira informalidade das mensagens electrónicas. Enfrento sempre com horror, um horror físico, um horror metafísico e moral, aquele "Oi!" que nos foi imposto a partir do Brasil - como é possível levar a sério alguém que se nos dirige assim?..."

"O vendedor de passados" - José Eduardo Agualusa


Todos nós temos cartas que nunca escrevemos,
cartas que nunca enviámos,
cartas que nunca deitámos fora...
e mais! Cartas que nunca pensámos receber...

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Abraço


“O aconchego de um abraço é muito mais intenso do que um beijo, beijar é bom, mas sentir o calor de outro ser humano é muito melhor.... faz-nos sentir que não estamos sós e que vale a pena viver. O beijo é um acto, um abraço é um sentimento... ”

Li este texto algures na internet e não poderia estar mais de acordo com ele. Não custa nada dar um beijo, damos beijos a várias pessoas e em várias situações. Dá-se um beijo a um amigo, a um familiar, a um conhecido, por educação, respeito, a alguém que nos foi acabado de apresentar...talvez até já se tenha tornado num hábito não muito sentido.


Já de um abraço não posso falar da mesma forma...Não andamos por aí a dar abraços da mesma forma que da-mos beijos.

O beijo é para o encontro enquanto que o abraço é para o reencontro!

Nada dá tanto aconchego como um abraço e por vezes é tão embaraçoso abraçar e ser abraçado...

Para eu poder dar um abraço a alguém tem que haver uma relação próxima e verdadeira, tenho que estar realmente à vontade com a pessoa pois só assim dá "aquele" prazer. O prazer de um abraço preenche muitas vezes um vazio...dá calor, aconchega, faz-nos muitas vezes perceber que não estamos sós e que vale a pena continuar na luta. Dá-me essencialmente paz e é num abraço que muitas vezes pode acabar um momento de nervosismo, ansiedade, tristeza. confusão. É num abraço, e apenas só com um abraço que muitas vezes é possível demonstrar alegria, amor, amizade, companheirismo, solidariedade, compreensão, clarificar sentimentos e emoções. Um abraço emociona, revitaliza...enfim!

Abracem-me :)